sexta-feira, 6 de novembro de 2009

Flávio de Carvalho - Traje Tropical

"Saia" é o nome deste movimento que busca na força de um grupo o que um homem sozinho fez em 1956. O homem, claro, era Flavio de Carvalho. Ele saiu pelas ruas do Centro da cidade desfilando sua proposta de traje ideal para o homem tropical: saia plissada acima do joelho (antes mesmo que Mary Quant lançasse a minissaia para a mulher), top à Michelangelo de náilon, meia arrastão e sandália de couro cru. Batizada de "Experiência n.o 3", foi imediatamente associada ao New Look que Christian Dior havia lançado em 57: um traje que revolucionou a moda no pós-guerra, oferecendo à mulher o direito à feminilidade, com saias no meio da perna e cinturinha de vespa.

O New Look de Carvalho, aliás, é anterior também ao de Dior. Desde 1944 ele fazia reflexões sobre a "estupidez" do terno-e-gravata para o homem tropical, embora só tenha apresentado sua proposta em 56. "O homem se manifesta na vida pelo seu corpo e pelo traje que o cobre", dizia. Em depoimento ao "Estado" na época, ele explicava assim sua tese: "No New Look para o verão a refrigeração do corpo se dá pelo fluxo em velocidade graduável do volume de ar situado entre o corpo e o tecido. Este fluxo de ar leva consigo o vapor de água do suor para a atmosfera no exterior do traje, impedindo que o suor se deposite sobre o tecido. Para que haja um bom fluxo de ar há necessidade de um bom volume de ar entre o corpo e o tecido.(…) A saia não pode ser substituída pelo short porque o short impede a circulação de ar entre as coxas".

Embora a idéia da saia (incluindo túnicas e vestidos) para homem não seja novidade, Carvalho foi um visionário. Ou um "revolucionário romântico", como definiu o arquiteto suíço Le Corbusier.

Ao recuperar uma peça de uso corrente dos homens da Antiguidade (como mostram, por exemplo, as imagens do rei Mycerinos, da 4.a dinastia egípcia, que usa modelo pregueado como o de Carvalho) e tradicional até hoje entre os escoceses (com a saia kilt), Carvalho transformou a roupa em manifestação artística contra as convenções burguesas e o conservadorismo da sociedade.

Menotti del Picchia comentou assim a passeata de Carvalho: "Ele não se ria, por dentro, dos que por fora se riam dele. Sua aventura não era uma piada: era heróica". Obviamente, boa parte de público viu naquilo apenas uma piada, sem entender suas razões. E del Picchia conclui: "Não creio que seus modelos vinguem. Flávio é um Galileu e não um Dior; não é um costureiro, é um filósofo".

Entre as inúmeras pensatas sobre o tema, Carvalho dizia que a moda "é um gráfico das angústias dos grupos sociais", composto pela "moda curvilínea fecundante e pela reta paralela antifecundante". O uso de cores vivas e fortes compensaria o desejo de agressão e, portanto, evitaria as guerras proporcionando uma vida melhor.

3 comentários:

  1. Gostei da sua análise, mas acho que faltou avançar na questão do moralismo ou da cultura hipócrita do “recato no vestir” e na apologia; “homem (macho) deve ser valorizado pela capacidade de trabalhar e gerar riqueza, e não pelo corpo”.
    Na mulher, apesar dos avanços da valorização do trabalho remunerado como elemento de qualificação feminina, aceita-se e até estimula-se veladamente, que a mulher se mostre, se desnude um pouco. Assim o efeito da saia no vestuário feminino é estratégico. Uma mulher de saia ou vestido, se exibe mais, se expoem mais. Gosto e prefiro ver uma mulher de saia, mas as vezes, vejo que as mulheres por terem essa liberdade no vestir, não percebem quão dantesco, fica uma mulher “gorda ou barriguda” vestindo saias curtas ou vestidos apertados, mas ninguem lhes recrimina, ou policia.
    Se os homens vestisse saias eles se exporiam mais, sim e não. Mas também se cuidariam mais, e isso seria benéfico para eles e até para as mulheres.
    Creio que ao homem expor mais o corpo, não lhes tira a motivação pelo trabalho, mas acho que lhe reduz a pressão pela exibição de atributos materiais como elemento de valorização pessoal.
    Num país tropical, homens usando saias poderiam trazer um benefício ambiental; a redução do uso de ar condicionado, em escritórios e fabricas.
    Nem todas as atividades profissionais permitem uma liberdade tão grande de vestir, mas, mais liberdade de escolha individuais, traria menos pressão ao homem moderno ocidental.
    Sou a favor de homem usar saias.

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  2. Falando nisso, vale apena visitarem o meu blog ainda em construção sobre o vestiário masculino:
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    http://saiaparahomem.blogspot.com/
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    Fique a vontade para seguir, ou comentar. Gostei do site.
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    Abraços!

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    1. Não dá para acessar, parece que é só para um grupo seleto...

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