terça-feira, 10 de novembro de 2009

Saia no bloco Flavio de Carvalho

O traje "New Look de Verão", uma das mais importantes peças da arte brasileira do século 20, usado por Flavio de Carvalho em sua "Experiência nº 3", em 1956, está à venda, a partir de hoje. É o carro-chefe da mostra "Sob um Céu Tropical", na galeria James Lisboa Escritório de Arte.

"New Look de Verão", traje usado em 1956 por Flavio de Carvalho


Carvalho (1899-1973) é não só um dos artistas mais experimentais no Brasil, como um dos precursores do happening e da performance na história da arte. Em 1931, ao caminhar de chapéu em sentido contrário ao de uma procissão de Corpus Christi, ele quase foi linchado. A polêmica foi registrada pelo próprio artista no livro "Experiência nº 2".

Contudo, Carvalho ainda é subavaliado pelo mercado de arte, tanto que o marchand James Lisboa estima que o "New Look" seja vendido por R$ 500 mil cada um, enquanto a tela "Mulata com Ramalhete de Flores" (1936), de Di Cavalcanti, na mesma exposição, está estimada em R$ 2 milhões. Cavalcanti (1897-1976) produziu mais de 25 mil trabalhos em vida, e a obra na mostra está longe de ter a importância histórica do "New Look". Os dois trajes na exposição pertenciam a sobrinhos do artista.

"Ele é o primeiro artista que trabalhou moda e arte", diz o pesquisador Flavio Roberto Lotufo, cujo tema de mestrado foi a "Experiência nº 3". Segundo Lotufo, em 18/10/1956, Carvalho andou pela cidade com dois conjuntos de saia e blusa: um de cor vermelha (que pertenceria à Faap, segundo o pesquisador) e o outro, que está na mostra.

A terceira blusa foi usada em outras ocasiões. De acordo com Lotufo, ele usou o conjunto várias vezes. As saias se perderam --na mostra há uma que serve como modelo da original. A Faap não confirmou quese possui um traje original.

Carvalho passará a ter destaque internacional no ano que vem, quando Lisette Lagnado organiza uma mostra, no museu Reina Sofía, em Madri, tendo o artista como figura central. "A apresentação das roupas está menos voltada para suas características, mas para a faceta de arquiteto e urbanista que foi o Flavio. Para ele, a cidade do século 20 passava necessariamente por uma mudança de comportamentos, livre de tabus", afirma a curadora.

Façamos uma passeata [em praça pública] com homens e mulheres trajando mini(micro)saias!! ou então façamos uma passeata com todo mundo pelado. Afinal, vivemos num país tropical e está quente pra burro: "... a cidade do século 20 passava necessariamente por uma mudança de comportamentos, livre de tabus."

A Espetacular Fábrica de Canalhas

Em anúncios publicados nos jornalões paulistas de 8 de Novembro, a Universidade Bandeirante (Uniban) anuncia que decidiu expulsar a aluna Geisy Arruda.

A estudante de Turismo sofreu bárbaro assédio coletivo no dia 22 de Outubro, na unidade de São Bernardo do Campo. O motivo: trajar na ocasião um vestido curto, num tom cereja.

O texto publicado pela Uniban deve converter-se imediatamente em peça de estudo para juristas, educadores, antropólogos e sociólogos.

A universidade preferiu punir a vítima e inventar uma justificativa pitoresca para o espetáculo do bullying, registrado por câmeras do próprios alunos e vergonhosamente exposto ao mundo pelo Youtube.

Segundo os negociantes da educação, "a atitude provocativa da aluna resultou numa reação coletiva de defesa do ambiente escolar".

Seria cômico se não fosse trágico. A Uniban, mais uma das uniesquinas do Brasil, considera "defesa do ambiente escolar" a agitação do bando que ameaçava estuprar a colega e que a perseguiu aos gritos de "puta, puta, puta".

Alheia a valores e princípios, a Uniban pautou-se unicamente pela doutrina da preservação do lucro. Expulsou a mocinha da periferia e manteve as centenas de vândalos que a molestaram.

Defendeu, assim, a receita, a contabilidade, mesmo sob o risco de macular para sempre sua imagem.

Em "Psicologia das Multidões", Gustave Le Bon refere-se com clareza ao fenômeno da sugestão em movimentos de multidões.

Diz ele: "Os indivíduos de uma multidão que possuem uma personalidade bastante forte para resistirem à sugestão são em número tão diminuto que acabam por ser arrastados pela corrente".

Le Bon lembra que, em determinadas situações, a multidão transforma o indivíduo civilizado num bárbaro, num ser primitivo, movido pelo instinto, que vibra com o ataque ao inimigo inferiorizado.

Poucas vezes se viu isso tão claramente quanto no episódio de 22 de Outubro. Há garotas inconformadas com a sina; afinal, não têm o corpão de Geisy. Há machões conquistadores não correspondidos, movidos pelo instinto de vingança. Por fim, a turba ignara que se diverte com a perseguição, algo muito semelhante à farra do boi.

A curvilínea e voluptuosa Geisy, que concedeu entrevistas aos programas televisivos vespertinos, exibiu-se no mesmo vestido que gerou a fúria de seus colegas de universidade.

Nada formidavelmente pecaminoso como se poderia imaginar. Aliás, fosse ela mirrada e poucos notariam a ousadia de suas vestes.

Esses aspectos objetivos da questão foram ladinamente desconsiderados pela direção da universidade.

Em nome do "negócio", a Uniban preferiu investir na fabricação de canalhas.

A decisão funciona como um sinal verde para os moralistas cafajestes de todos os tipos. Esse incentivo criminoso, pois, não se limita aos clientes da instituição, mas ao conjunto dos estudantes brasileiros.

Paulo Freire, costumava advertir os educadores com a seguinte frase:

"Conhecer é tarefa de sujeitos, não de objetos. E é como sujeito, e somente enquanto sujeito, que o homem pode realmente conhecer".

No caso em debate, a Uniban fez exatamente o contrário. Desprezou o sujeito, deseducando-o. Concomitantemente, priorizou o objeto, isto é, seu negócio, o prédio iluminado vendedor de diplomas.

Dessa forma, trocou todas as regras da civilidade por um repugnante código de carceragem.

O episódio Geisy revela a decadência do ensino universitário brasileiro, transformado em oportunidade de mercado. Essa é a herança do regime militar e dos governos conservadores que o seguiram, sobretudo aquele do privateiro Fernando Henrique Cardoso.

Ironicamente, o bajulado professor uspeano de tudo fez para esculhambar o ensino público de qualidade, entregando o sagrado ofício da educação às máfias dos certificados e aos traficantes de títulos acadêmicos.

Tempos de provação. E, como formigas, os canalhas saem aos montes dessas instituições, prontos a divinizar o pensamento neoliberal e a Lei de Gérson, seduzidos à barbárie por diversão.


Mauro Carrara

domingo, 8 de novembro de 2009

Assine nossa petição à reitoria da Universidade dos Bandeirantes


À UNIBAN (Universidade Bandeirantes)

Os subscritores abaixo vem manifestar total rep�dio � postura da UNIBAN, unidade S�o Bernardo do Campo/SP, ao optar pela expuls�o da estudante Geisy Arruda por ela ter, supostamente, usado vestimenta que atentou � moral e bons costumes (veja reportagem sobre o assunto em http://bit.ly/I2OX2 e http://bit.ly/2UJsS)

N�o obstante a autonomia da entidade de ensino em elaborar regras disciplinares para o corpo discente, a postura da entidade demonstra perfil autorit�rio e contr�rio �s conquistas dos Direitos e Garantias Individuais do cidad�o, o que n�o coaduna com a atitude esperada de entidade privada que possui a delega��o de obriga��o de servi�os p�blicos, devendo, portanto, estar sujeita aos mesmos compromissos �ticos da Administra��o P�blica.

O ambiente universit�rio deve pautar-se pela debate amplo e defesa incondicional da liberdade de seus alunos, obrigando-se a repelir de forma imediata qualquer inten��o de atentado � dignidade da pessoa ou outras formas de humilha��o, como � o caso em que se viu envolvida a aluna Geisy. Ademais, a nota de esclarecimento sobre a infeliz expuls�o somente confirma a conduta preconceituosa da universidade que, no m�nimo, est� ausente de moralidade.

A expuls�o envergonha os subscritores desse manifesto, e coloca em cheque os princ�pios basilares do Estado Democr�tico de Direito. Portanto, deve ser registrado que a op��o da Uniban � fato isolado e contraria a todos n�s.

Desejamos que fatos como esse sejam sempre lembrados como exemplos de involu��o cultural da sociedade, para que nunca mais se repitam.

Sinceramente,

sábado, 7 de novembro de 2009

A turba da Uniban

NA SEMANA passada, em São Bernardo, uma estudante de primeiro ano do curso noturno de turismo da Uniban (Universidade Bandeirante de São Paulo) foi para a faculdade pronta para encontrar seu namorado depois das aulas: estava de minivestido rosa, saltos altos, maquiagem -uniforme de balada.
O resultado foi que 700 alunos da Uniban saíram das salas de aula e se aglomeraram numa turba: xingaram, tocaram, fotografaram e filmaram a moça. Com seus celulares ligados na mão, como tochas levantadas, eles pareciam uma ralé do século 16 querendo tocar fogo numa perigosa bruxa.
A história acabou com a jovem estudante trancada na sala de sua turma, com a multidão pressionando, por porta e janelas, pedindo explicitamente que ela fosse entregue para ser estuprada. Alguns colegas, funcionários e professores conseguiram proteger a moça até a chegada da PM, que a tirou da escola sob escolta, mas não pôde evitar que sua saída fosse acompanhada pelo coro dos boçais escandindo: "Pu-ta, pu-ta, pu-ta".
Entre esses boçais, houve aqueles que explicaram o acontecido como um "justo" protesto contra a "inadequação" da roupa da colega. Difícil levá-los a sério, visto que uma boa metade deles saiu das salas de aula com seu chapéu cravado na cabeça.
Então, o que aconteceu? Para responder, demos uma volta pelos estádios de futebol ou pelas salas de estar das famílias na hora da transmissão de um jogo. Pois bem, nos estádios ou nas salas, todos (maiores ou menores) vocalizam sua opinião dos jogadores e da torcida do time adversário (assim como do árbitro, claro, sempre "vendido") de duas maneiras fundamentais: "veados" e "filhos da puta".
Esses insultos são invariavelmente escolhidos por serem, na opinião de ambas as torcidas, os que mais podem ferir os adversários. E o método da escolha é simples: a gente sempre acha que o pior insulto é o que mais nos ofenderia. Ou seja, "veados" e "filhos da puta" são os insultos que todos lançam porque são os que ninguém quer ouvir.
Cuidado: "veado", nesse caso, não significa genericamente homossexual. Tanto assim que os ditos "veados", por exemplo, são encorajados vivamente a pegar no sexo de quem os insulta ou a ficar de quatro para que possam ser "usados" por seus ofensores. "Veado", nesse insulto, está mais para "bichinha", "mulherzinha" ou, simplesmente, "mulher".
Quanto a "filho da puta", é óbvio que ninguém acredita que todas as mães da torcida adversa sejam profissionais do sexo. "Puta", nesse caso (assim como no coro da Uniban), significa mulher licenciosa, mulher que poderia (pasme!) gostar de sexo.
Os membros das torcidas e os 700 da Uniban descobrem assim um terreno comum: é o ódio do feminino -não das mulheres como gênero, mas do feminino, ou seja, da ideia de que as mulheres tenham ou possam ter um desejo próprio.
O estupro é, para essas turbas, o grande remédio: punitivo e corretivo. Como assim? Simples: uma mulher se aventura a desejar? Ela tem a impudência de "querer"? Pois vamos lhe lembrar que sexo, para ela, deve permanecer um sofrimento imposto, uma violência sofrida -nunca uma iniciativa ou um prazer.
A violência e o desprezo aplicados coletivamente pelo grupo só servem para esconder a insuficiência de cada um, se ele tivesse que responder ao desejo e às expectativas de uma parceira, em vez de lhe impor uma transa forçada.
Espero que o Ministério Público persiga os membros da turba da Uniban que incitaram ao estupro. Espero que a jovem estudante encontre um advogado que a ajude a exigir da própria Uniban (incapaz de garantir a segurança de seus alunos) todos os danos morais aos quais ela tem direito. E espero que, com isso, a Uniban se interrogue com urgência sobre como agir contra a ignorância e a vulnerabilidade aos piores efeitos grupais de 700 de seus estudantes. Uma sugestão, só para começar: que tal uma sessão de "Zorba, o Grego", com redação obrigatória no fim?
Agora, devo umas desculpas a todas as mulheres que militam ou militaram no feminismo. Ainda recentemente, pensei (e disse, numa entrevista) que, ao meu ver, o feminismo tinha chegado ao fim de sua tarefa histórica. Em particular, eu acreditava que, depois de 40 anos de luta feminista, ao menos um objetivo tivesse sido atingido: o reconhecimento pelos homens de que as mulheres (também) desejam. Pois é, os fatos provam que eu estava errado.

ccalligari@uol.com.br

42 anos depois

O tumulto causado por minivestido em universidade paulista dias atrás já teve paralelo em Porto Alegre 42 anos atrás. Na capa de Zero Hora de 27 de julho de 1967, a manchete informava: “Minissaia dá cadeia”.

Ao desfilarem pela Rua da Praia no dia anterior, duas adolescentes, de 14 e 16 anos (foto), causaram furor na multidão – cerca de 2 mil pessoas – por causa de suas saias curtas. Correram, se refugiaram em lojas e acabaram presas por oito PMs. As duas foram encaminhadas ao então Juizado de Menores.

saia de saia!

O Flávio fez as experiências números 2 e 3 (ele nunca confirmou qual foi a no. 1).
Chamaremos esta caminhadançada da Universidade dos Bandeirantes até a Igreja Renascer de Experiência número 4 (verificar o arcano IIII do Tarot) num horário dos cultos.

Saias criadas exclusivamente para o evento... Saias parangólicas para o conforto do macho tropical.

Saia
...da rotina, da casinha, do carro, da moda, da camuflagem, do armário, das trincheiras, de si...

...plissada, engomada, de colagens, trançada, tramada, rendada, chapada, fibrátil, ventilada...


retomemos o princípio andrógino como respeito às nuances genéricas...

traje: saia(como quiser).

sexta-feira, 6 de novembro de 2009

saia! chamada aberta

SAIA
CHAMADA ABERTA

Ação de repúdio à animalice sexista, ou o estopim da barbárie.
http://www.youtube.com/watch?v=e0iZmImcuNg

No dia 13, pretendemos agrupar o maior número de mulheres e homens trajando minissaias com uma pequena aparelhagem de som portátil e realizar ações estéticas junto ao campus da Universidade dos Bandeirantes. Devido à existência de catracas, pretendemos utilizar ou dos botecos da rua ou ligar aparelhagem direto de um automóvel (alguém descola um gerador?)
Algumas canções já foram cotadas para a discotecagem, tais como "Geni e o Zepelim" de Chico Buarque e a obra completa da MC Chuparina entre outras para enaltecimento da delicadeza e da putaria.

POR FAVOR TRAGAM PANFLETOS, POSTERS, TEXTOS, SONS, MINISSAIAS, FOTOS, CORPOS E ENERGIA. Vamos passear.

SEXTA-FEIRA 13 às 18 horas, em homenagem a todas as bruxas.

LOCAL DO CAMPUS:
Av. Dr. Rudge Ramos, 1.501 São Bernardo do Campo

Flávio de Carvalho - Traje Tropical

"Saia" é o nome deste movimento que busca na força de um grupo o que um homem sozinho fez em 1956. O homem, claro, era Flavio de Carvalho. Ele saiu pelas ruas do Centro da cidade desfilando sua proposta de traje ideal para o homem tropical: saia plissada acima do joelho (antes mesmo que Mary Quant lançasse a minissaia para a mulher), top à Michelangelo de náilon, meia arrastão e sandália de couro cru. Batizada de "Experiência n.o 3", foi imediatamente associada ao New Look que Christian Dior havia lançado em 57: um traje que revolucionou a moda no pós-guerra, oferecendo à mulher o direito à feminilidade, com saias no meio da perna e cinturinha de vespa.

O New Look de Carvalho, aliás, é anterior também ao de Dior. Desde 1944 ele fazia reflexões sobre a "estupidez" do terno-e-gravata para o homem tropical, embora só tenha apresentado sua proposta em 56. "O homem se manifesta na vida pelo seu corpo e pelo traje que o cobre", dizia. Em depoimento ao "Estado" na época, ele explicava assim sua tese: "No New Look para o verão a refrigeração do corpo se dá pelo fluxo em velocidade graduável do volume de ar situado entre o corpo e o tecido. Este fluxo de ar leva consigo o vapor de água do suor para a atmosfera no exterior do traje, impedindo que o suor se deposite sobre o tecido. Para que haja um bom fluxo de ar há necessidade de um bom volume de ar entre o corpo e o tecido.(…) A saia não pode ser substituída pelo short porque o short impede a circulação de ar entre as coxas".

Embora a idéia da saia (incluindo túnicas e vestidos) para homem não seja novidade, Carvalho foi um visionário. Ou um "revolucionário romântico", como definiu o arquiteto suíço Le Corbusier.

Ao recuperar uma peça de uso corrente dos homens da Antiguidade (como mostram, por exemplo, as imagens do rei Mycerinos, da 4.a dinastia egípcia, que usa modelo pregueado como o de Carvalho) e tradicional até hoje entre os escoceses (com a saia kilt), Carvalho transformou a roupa em manifestação artística contra as convenções burguesas e o conservadorismo da sociedade.

Menotti del Picchia comentou assim a passeata de Carvalho: "Ele não se ria, por dentro, dos que por fora se riam dele. Sua aventura não era uma piada: era heróica". Obviamente, boa parte de público viu naquilo apenas uma piada, sem entender suas razões. E del Picchia conclui: "Não creio que seus modelos vinguem. Flávio é um Galileu e não um Dior; não é um costureiro, é um filósofo".

Entre as inúmeras pensatas sobre o tema, Carvalho dizia que a moda "é um gráfico das angústias dos grupos sociais", composto pela "moda curvilínea fecundante e pela reta paralela antifecundante". O uso de cores vivas e fortes compensaria o desejo de agressão e, portanto, evitaria as guerras proporcionando uma vida melhor.